Roteiro para aproveitar Recife em cinco dias

Como contei no texto anterior, aproveitei uma promoção da Gol para fazer uma viagem a Pernambuco que não estava nos meus planos. Passei dois dias em Porto de Galinhas e, depois, outros cinco na capital, Recife. Foi tempo suficiente para conhecer tudo que a capital pernambucana tem de bom para oferecer (considerando que não foi uma viagem de Carnaval, claro).

A famosa praia de Boa Viagem ao entardecer

Voltei de carona de Porto de Galinhas até o aeroporto. Segui de lá para o Hostel Piratas da Praia, em Boa Viagem, onde fiquei hospedado. O terminal integrado de metrô e ônibus é ligado ao aeroporto por uma passarela gigantesca e fiquei um bom tempo esperando pelo ônibus, que saiu lotado. Mas como fui um dos primeiros da fila, consegui ir sentado. Menos de meia hora depois cheguei ao hostel, que fica em uma das três principais avenidas do bairro.

Boa Viagem é um belo bairro, um dos mais nobres de Recife e destino preferido dos turistas. Decidi conhecê-lo com uma (baita) caminhada pela praia até a feirinha que fica atrás da Igreja de Nossa Senhora de Boa Viagem. Jantei um acarajé com caldo de cana, tomei um sorvete e voltei, também caminhando, pela orla. Mesmo à noite, a avenida é bem movimentada. As diversas câmeras e o policiamento constante passam uma grande sensação de segurança.

Prédios na Avenida Boa Viagem vistos da praia. Alguns mais antigos são mais simples, mas a maioria é de alto padrão

Mangue Town

No segundo dia, comecei a conhecer um pouco melhor o estilo de vida da Mangue Town, como diria Chico Science: andando por entre os becos, andando em coletivos. Apesar da boa localização, o Piratas da Praia peca, na minha opinião, por não oferecer café da manhã. As opções para comer por ali logo cedo são escassas.

Para um paulistano acostumado com padarias 24 horas ou abrindo às 6h, foi um pouco complicado… No primeiro dia recorri ao McDonald’s da avenida Conselheiro Aguiar. Na sequência, peguei um ônibus até o centro para comprar o VEM (Vale Eletrônico Metropolitano), cartão de transporte público.

Como a proposta era gastar pouco, praticamente só usei ônibus para me locomover por lá, então o VEM veio bem a calhar. Com a ajuda do Moovit, o deslocamento de ônibus para alguém de fora fica bem mais fácil. Recife conta com duas linhas de metrô, mas elas não estão próximas às atrações turísticas da cidade – o que é uma pena.

Depois de uma imensa fila na loja do VEM em Boa Vista, bairro comercial no centro, finalmente consegui o cartão e peguei o busão na avenida Conde de Boa Vista até a Casa de Cultura, que fica no bairro Santo Antônio. O local funcionou como uma cadeia e foi totalmente restaurado. Hoje as antigas celas são ocupadas por artesãos e pequenas lanchonetes.

Um dos corredores da Casa de Cultura

Bem ali do lado fica o tradicionalíssimo Restaurante Leite, que dizem ser o primeiro do Brasil. A reputação mereceu minha primeira (e única) extravagância em Recife. O ambiente é bem requintado e me senti um peixe fora-d’água. Enquanto nas mesas ao lado a galera usava terno e gravata, eu tava ali de bermuda, tênis e mochila. Comi bem, mas os R$ 89 gastos na refeição estão totalmente fora da minha realidade.

O almoço no Restaurante Leite. Prato mais simples, porque foi o que coube no orçamento

De barriga cheia e com o “agradável” sol a pino recifense, peguei outro ônibus até o vizinho bairro de São José (daria pra ir à pé, caso a temperatura estivesse mais agradável). Lá, conheci o Forte das Cinco Pontas, onde fica o Museu da Cidade do Recife. Ao lado, está o Cais Santa Rita, de onde saem os passeios de catamarã para conhecer as pontes do rio Capibaribe.

Por R$ 50, o passeio dura cerca de uma hora e conta um pouco da história de Recife. Vale muito a pena! No finzinho de tarde, então… a vista é maravilhosa. Aos domingos, um percurso um pouco mais longo também permite conhecer os bairros mais distantes do centro, Capibaribe acima. Na volta do passeio, mais ônibus até BV.

A sede da Assembleia Legislativa (esq.), na rua da Aurora, vista de dentro do rio Capibaribe durante o passeio de catamarã

Olinda e Recife Antigo

Se durante a semana o comércio já abre tarde em Recife (lembrando: estamos falando de padrões paulistanos haha), de sábado então nem se fala… Conclusão: mais um café da manhã no Mc e logo depois bus pra Olinda, cidade-irmã vizinha a Recife.

Percurso longo, mas mais uma vez bem tranquilo de se fazer. Um ônibus só e uma hora depois já estava na Praça do Carmo. Logo depois de descer, já fui abordado por um guia local oferecendo seus serviços, que incluíam visitas a todos os pontos turísticos (conventos, igrejas, museus e afins). Como essa parte de turismo histórico não é muito minha praia, preferi seguir sozinho. Mas para quem gosta e quiser conhecer mais a fundo a história da cidade, acho uma boa pedida. Eles são bem-dispostos a negociar.

Subi sozinho pelas ladeiras tão conhecidas durante os blocos de Carnaval até o Alto da Sé, onde também fica o mirante sobre a caixa-d’água. A subida de elevador custa R$ 8. Achei caro, mas a vista em 360º fez o pequeno investimento valer bastante a pena. A paisagem é deslumbrante.

Parte da vista do alto da caixa-d’água de Olinda

Segui caminhando pelas ruas do centro histórico até a famosa Bodega de Véio, na rua do Amparo. Almocei por lá e comecei a descida até o Mercado Eufrásio Barbosa, onde peguei o ônibus para o Recife Antigo, destino da parte da tarde.

Da Praça do Marco Zero, saem pequenos barcos que levam ao Parque das Esculturas de Francisco Brennand. Durante toda a minha passagem por lá, ventou muito. Pois bem. A travessia foi bastante animada, se é que podemos chamar assim. Chegando lá nas estátuas, ainda levei um banho depois que uma onda um pouco (muito) mais forte bateu nas pedras que ficam atrás das obras. Na hora de voltar pro Marco Zero, mais emoção. Conclusão: as obras vistas de perto não são lá essas coisas (na verdade, não fazem muito meu estilo). Do Marco Zero já é possível tirar umas fotos legais, pra mim já teria bastado.

O Parque das Esculturas de Brennand

Em compensação, na sequência fui àquele que considerei o melhor ponto turístico do Recife: o Cais do Sertão. Localizado na região do antigo porto, está numa área ainda em revitalização. Mistura passado e tecnologia de uma forma impressionante e conta com bastante realismo como é o estilo de vida no sertão nordestino.

Seguindo a caminhada à pé por ali, fui ao Paço do Frevo e à Embaixada de Pernambuco, dois lugares que contam bastante sobre o Carnaval pernambucano. O primeiro, como o próprio nome diz, fala sobre as origens e a evolução do principal ritmo de Pernambuco. Já o segundo expõe alguns dos principais Bonecos de Olinda que desfilam pelos blocos, mas confesso que fiquei um pouco assustado lá dentro com todos aqueles bonecos gigantes “olhando” pra mim.

Alguns dos Bonecos de Olinda expostos na Embaixada de Pernambuco

Antes de voltar para o hostel, parada para um sorvete no Shopping Paço Alfândega, mais um prédio restaurado e muito bem aproveitado no Recife Antigo. Só fiquei frustrado pois a ideia era assistir ao pôr-do-sol no mirante, mas o andar estava fechado (sem nenhuma justificativa aparente).

Domingo cultural

Depois de dois dias tomando café da manhã no McDonald’s, tentei dar uma variada. Mas a única opção que achei foi o Extra que fica na avenida Domingos Ferreira. Fazer o quê…

O principal destino do dia era o Instituto Ricardo Brennand, que fica bastante afastado do centro, no bairro da Várzea. Mas antes, aproveitei a manhã para ir ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo do Estado. Visita que valeu muito a pena (grátis)! Segui até a avenida Guararapes e começou o martírio… Fiquei mais de uma hora esperando pelo bendito CDU-Várzea (foi tão traumatizante que até decorei o nome da linha). Depois, mais uns 40 minutos até o Instituto Brennand. O ônibus para praticamente na portaria, mas o terreno é imenso e precisei andar mais uns 20 minutos até a bilheteria.


A entrada e um dos prédios do Instituto Brennand

Por sorte, havia comprado um pacote de biscoitos e chocolate no Extra de manhã. E isso foi o meu almoço, porque não teria tempo pra comer, já que o passeio no Instituto exige umas duas horas para fazer tudo com calma.

Aquele lugar é um mundo a parte. São diversas obras de autoria de Brennand e imensas coleções de quadros, estátuas, peças medievais… e os prédios também parecem castelos. É um local totalmente inóspito e diferente de tudo aquilo que você verá no restante de Recife.

Pra fechar o domingo cultural, mais 20 minutos andando até a entrada do Instituto para esperar pelo traumático CDU-Várzea. Felizmente, dessa vez fiquei menos de cinco minutos no ponto e cheguei a tempo de comprar ingressos para a sessão de “O filme da minha vida” que estava em cartaz no tradicional Cinema São Luiz, que fica na não menos tradicional rua da Aurora.

Aproveitei o tempo de sobra para andar à pé pela região, conhecer com mais calma as pontes e tomar um banho de chuva, que chegou do nada. Ainda deu para comer na Deltaexpresso, ótima cafeteria que tem várias unidades em Recife (mas em São Paulo infelizmente ainda não achei nenhuma… uma pena!).

Já escurecendo, a volta para o cinema foi um pouco tensa… Achei que seria assaltado e quase entrei num táxi que passava pela rua da Aurora. A movimentação por ali é meio estranha depois que cai a noite.

Mas cheguei vivo e com todos os pertences ao cinema, que de tão bonito não precisa nem de um bom filme para valer a visita. Construído nos anos 1950, preserva as características originais e a iluminação antes da projeção começar chama muito a atenção (não chegue em cima da hora).

Interior do Cinema São Luiz

Impressão final

No meu último dia de viagem, resolvi acordar um pouco mais tarde para, enfim, tomar café da manhã numa padaria, a Boa Viagem, que fica na avenida e bairro homônimos. Aproveitei para comprar os bolos de rolo que levaria de volta pra casa.

Peguei outro ônibus para um último passeio: os memoriais de Chico Science e Luiz Gonzaga que ficam escondidos no Pátio de São Pedro, no bairro Santo Antônio. São duas atrações pouco divulgadas e, pelo que vi no livro de presença, pouquíssimo visitadas também. Sequer abrem aos finais de semana e a manutenção deixa muito a desejar, embora os funcionários se esforcem em atender bem os turistas. Para dois artistas do tamanho e da importância de Science e Gonzaga, a homenagem poderia ser mais respeitosa…

Voltei para o hostel pingando de suor, tomei um banho, almocei e fui dar uma volta de despedida pela orla de BV. Enquanto tomava minha água de coco, fiquei pensando no quanto gostei daquela cidade. Como toda capital brasileira (pelo menos as que eu já conheci), Recife tem seus defeitos, claro. Mas me chamou a atenção a vibração da cidade, que também tem uma boa estrutura e é muito calorosa. Em vários momentos me senti como um recifense. Não preciso nem dizer que já fiquei com vontade de voltar…

Por fim, antes de embarcar, não poderia deixar o solo pernambucano sem experimentar o bolo de rolo. Então o jeito foi comer ali mesmo na praça de alimentação do aeroporto, acompanhado de um café e do último pôr-do-sol por lá. Muito obrigado, Recife. Até a volta!

Café de despedida no aeroporto

Texto e fotos by Rodrigo Masaia.

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