Perrengues de fé em uma viagem

 Viajar engloba muito mais do que conhecer o destino daqueles seus sonhos… muito mais do que as memórias de ter visitado um lugar fantástico… mais do que ter experimentado novas comidas… conhecer novas pessoas… viajar também é passar por situações que só quem viaja sabe, que faz sentir um ódio sem igual na hora, mas que depois vale boas risadas… muitos chamam isso de perrengues de viagem.

Hoje conto uma situação que me aconteceu alguns anos atrás, quando eu saía de Buenos Aires, na Argentina, e partia para Santiago, no Chile. De cara, foi o tipo de dia pra esquecer, ou pior, pra lembrar e nunca mais querer algo igual. Estávamos em Buenos Aires fazia uma semana, e justo no dia de nossa saída para Santiago, a companhia aérea decidira entrar em greve.

Nosso voo sairia por volta das 8 da manhã e, com o fuso, chegaríamos em nosso destino por volta das 11 e 30… mas não, se dependêssemos da esplêndida Aerolíneas Argentinas. E se aqui vale um parênteses, uma daquelas empresas para ficar longe a qualquer custo. Mesmo tendo preços consideravelmente inferiores, a qualidade do serviço, e o risco de ficar sem ele, não vale o valor menor.

Voltando à história… Descobrir que a empresa aérea que te levaria para qualquer canto do planeta está em greve somente quando você chega ao aeroporto é uma situação pra lá de assustadora. Não existem muitas explicações, muitas desculpas, muitas soluções… somente a situação de estar completamente isolado dentro de um aeroporto, com sua bagagem, cansado, estressado, e dependendo da boa vontade de alguém da empresa…

Ninguém te fala nada… ninguém parece saber de nada… e você só quer que te consigam uma vaga no próximo voo, em qualquer outra companhia, só pra você se livrar desse mal… pra piorar, havíamos contratado um passeio em Santiago, para as 14 horas, e o atraso nos faria perder o serviço.

Somente por volta das 11 da manhã decidiram distribuir um vale alimentação. Que serviria apenas em uns dois restaurantes e outras duas lanchonetes em todo o aeroporto. Mesmo assim, já seria um alento, para quem esperava por uma resposta há mais de 6 horas.

Pelo avançado da hora, nosso passeio já estava perdido no Chile, e a única instrução que haviam dado era pra esperarmos um chamado nos alto-falantes. Ótima pedida… Tempo para se esparramar pelos cantos do aeroporto e esperar…

Quando bate 17 horas, parece que o desespero bate em todos os passageiros dos voos atrasados, e as pessoas começam a muvucar o guichê da empresa aérea… acuados, os funcionários finalmente chamam um funcionário do alto escalão pra dar explicações… mas como no meio da guerra, quem aparece no campo de batalha leva tiro, o pobre almofadinha nem teve a chance de se manifestar…

E, aparentemente, quando a bagunça começa a aumentar, percebemos uma reação quanto a conseguir encaixar os viajantes nos voos… até então, não sabíamos nem se sairíamos de lá, e como seria nossa segunda parte da viagem…

Enfim, para resumir, os funcionários da Aerolíneas haviam dado uma pausa na greve (depois de ter ferrado uma tonelada de gente… rsrs) e a correria era pra esvaziar o aeroporto durante a noite… nosso voo finalmente sairia, lá pelas 23 e 30… situação ruim, mas ainda assim melhor, já que não sabíamos nem como seria nossa noite no aeroporto…

Quando a hora finalmente chega e conseguimos embarcar, percebemos que o avião não decola…….. ficar de castigo dentro do aeroporto é uma coisa… ficar de castigo dentro de um avião, espremido, é outra… e o atraso chega a 40 minutos… mas o pensamento segue positivo, “se estamos dentro do avião, não tem como não sair daqui”… quando finalmente uma das comissárias se pronuncia e informa que estavam faltando 4 passageiros…

Sacanagem!!! Isso é pensar pouco, a respeito dessa situação… mas a surpresa maior do dia foi ver quem eram os “atrasadinhos”… quatro freirinhas, de pouco mais de um metro e meio cada uma… todas devidamente “caracterizadas”… e acompanhadas de malas gigantes que, é claro, não haviam sido despachadas…

Mais uns 15 minutos pra encontrar um espaço para as malas… não!!! as freirinhas já estavam sentadas… rsrs… mas enfim partiríamos… depois de um dia horroroso, finalmente seguiríamos viagem…

Eu estava sentado no último assento do avião… apertado… ao lado de uma “tiazona” argentina que não parava de falar… e as quatro horas e meia de voo me reservariam uma surpresa ainda mais animada… MAIS DE QUATRO HORAS de TURBULÊNCIA!!!!!

Acho mesmo que o avião só não tremeu na hora de subir e na hora de descer… a tiazona ao meu lado não parava de falar, e eu não parava de suar… não ligo pra voar, mas estar num passeio a alguns milhares de metros do chão sem parar de balançar não é muito para mim…

E para ajudar, sabe aqueles formulários de imigração que costumamos preencher dentro desses voos? Pois então… imagina que as freirinhas decidiram procurar as canetas naquelas malonas imensas, que estavam devidamente guardadas naqueles compartimentos sobre os assentos… nada de pedir emprestado… nada de preencher quando chegássemos… o avião balançando pra cacete, e aquelas freirinhas DIVINAS preocupadas com o formulário de imigração…

Meu pensamento, em determinado momento, foi que Deus nunca derrubaria um avião com quatro de suas fieis “funcionárias”… ou será que derrubaria???

Chegamos a Santiago já no meio da madrugada… perdemos nosso transfer para o hotel, nosso primeiro passeio, um dia de viagem… mas eu nunca tinha ficado tão feliz por ter pisado em terra… e, por sorte, nosso segundo dia era livre, o que permitiria que descansássemos um pouco mais para recuperar da viagem. Realmente, um daqueles dias para esquecer…….

Mas e você, já passou por alguma situação desse tipo? Voo atrasado? Passageiro atrasado? Turbulência sem fim? Vontade de jogar alguém pra fora do avião? Compartilhe conosco.

Grande abraço!!!

Texto by Ricardo Seripierro

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