A conquista do Chile

Quando você pensa em uma viagem pela América do Sul, qual o primeiro destino que vem à sua cabeça? Buenos Aires, provavelmente. Bariloche, talvez. Montevidéu, correndo por fora. Punta Del Este, ou até mesmo Assunção ou Machu Pichu, em um momento maior de aventura.

Claro que existirão os mais ousados, com destinos mais exóticos e pontuais, mas a ideia aqui é a de, justamente, mostrar que em uma escala de preferência, alguns anos atrás, e em alguns casos ainda recentemente, poucos se lembrariam de Santiago ou qualquer outra localidade no Chile.

Foi mais ou menos nessa linha que, em 2008, durante o planejamento das férias, que Santiago se apresentou, e desde lá, se transformou num dos meus destinos preferidos.

Um ano antes, em 2007, já iniciando os planos para as férias, com a namorada à tira colo, a ideia era a de buscar um destino legal para desbravar a dois. Um lugar que tivesse um pique legal, facilidade no acesso, bons lugares e que, enfim, atendesse todas as expectativas daqueles que viajam a dois. O primeiro pensamento? É claro… “vamos para Buenos Aires!!!”.

Só que em uma reviravolta dos astros, quando fomos fechar o pacote, a Argentina estava passando por uma pindaíba ferrada. Greves, falta de comida, lixo por todos os lugares. Daí, pensar em viajar e passar fome, ou qualquer outro perrengue, faz qualquer um reavaliar o roteiro.

Eu já conhecia a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, e o termo “neve no Chile” soou como um chamado que provoca arrepios no pensamento até hoje. Mas a coisa não era assim tão fácil, o país acabara de sair de um dos seus piores terremotos, e ainda se recuperava. Ao receber a informação do agente de viagens que, apesar disso, a estrutura ainda era mais acolhedora que na Argentina, não pensamos duas vezes: “vamos lá!!!”


No pacote, além de Santiago, Valparaíso e Viña Del Mar, estendemos nossa viagem até algumas cidades que formam a cabeceira da Região dos Lagos, passando por Osorno, Puerto Varas, Puerto Montt, Llanquihue e Frutillar.


Foram 8 dias, suficientes para se ter uma boa primeira impressão do Chile, na verdade, uma primeira impressão fantástica.

Nesse roteiro, iniciamos a viagem por Santiago, por 2 dias, 4 pelas demais cidades, e fechamos em Santiago por mais 2 dias. O tempo poderia ter sido maior, mas para quem viajava por pacote e não sabia muito bem o que esperar, pareceu bastante adequado.

A viagem começa a chamar a atenção ainda em sua parte aérea, quando você está sobrevoando a Cordilheira dos Andes. A visão é fantástica, quer seja no inverno, no verão, durante o dia, ou mesmo à noite. Por todo o passeio a Cordilheira estará vigiando seus passos, e em determinados momentos do dia ela parece ainda mais bonita.


Já visitei o país em mais de uma época, por isso indico roupas de frio leve para as caminhadas mais intensas, e algo mais pesado para quando você estiver em trânsito ou decidir visitar os pontos nevados. A temperatura costuma ser bem razoável em Santiago, esfriando bem à noite e parte da manhã. Nos passeios, o frio pode ser mais intenso, principalmente se você vai ao Valle Nevado. Nas cidades mais ao sul, fique esperto com o frio e as chuvas, muito mais intensas.


E o que esperar de Santiago e de todo o Chile, de uma maneira geral? Uma cidade muito limpa, muito organizada, com uma combinação de construções antigas e novas que contrastam de maneira surpreendente, preços bastante razoáveis, lugares lindíssimos, boa variedade de atividades, boa comida, boa estrutura hoteleira, de transporte, de restaurantes e de lojas, enfim, um lugar com uma estrutura maravilhosa para o turismo, diferente de muitos outros cantos que se gabam serem destinos perfeitos.


As pessoas são muito educadas e adoram brasileiros. O que não quer dizer que você não tomará um esbarrão na rua, de alguém mais apressado, mas nada que você não esteja acostumado pelo Brasil afora.

O transporte é muito fácil, tanto pela capital como pelas cidades do interior. Os táxis são muito baratos, com motoristas honestos, e falantes. Pergunte a eles sobre o que pensam do país ou do Brasil e você ouvirá teorias interessantíssimas. O metrô é uma apresentação de arte à parte. Muito limpo, com bons acessos e capacidade de te levar para qualquer ponto de Santiago. E os ônibus, na capital exigem um passe especial, mas no interior custam centavos e, embora tenha um jeitão de ônibus dos anos 1960 em 2000, ainda assim cumprem bem o seu papel. Mesmo a pé, Santiago é um local sensacional para longas caminhadas.

A comida não deixa a desejar. A menos que você queira investir em uma centolla, um tipo de caranguejo rei que só aparece por aquelas bandas, e cujo preço pode ultrapassar fácil os R$400,00 (para 4 pessoas), no mais pizzas, massas, pães, carnes, frangos, todos os tipos de salada, e sempre com o avocado (tipo de abacate) para dar e vender. Até o McDonalds de lá carrega o tal abacatinho. Uma dica legal é ficar de olho no nível de sódio da água. Vários tipos de água em garrafa vêm com um nível alto desse elemento, o que costuma mudar bastante seu gosto, por isso, quanto menor o número, ou até nenhum traço, melhor.


Se além da comida, você curte uma boa bebida, Santiago tem muito espaço para os grandes (ou nem tanto) fãs de vinhos, com inúmeras vinícolas espalhadas pela cidade para visitação, degustação e compras.

Quanto às compras, surpresas agradáveis desde as rápidas visitas aos supermercados até as lojas de rua ou nos shoppings. Se você está em um grupo, não se assuste com a tiazona que vende cachecóis por R$10,00. Ela aparecerá em todos os destinos que o ônibus se atrever a parar. Não sei como ela chega antes, e nem a razão de insistir vender sempre para o mesmo grupo, mas ela está sempre lá, e aceita até moeda brasileira. Mas nas lojas, se você perder um pouco a mão, lá se foi o limite do cartão de crédito com todas as boas ofertas.

Santiago fica a 120Km da neve, no Valle Nevado, e a 120Km da praia, em Valparaíso e Viña Del Mar. Nada melhor. Só não espere uma praia como qualquer praia em território brasileiro, mas igualmente lindas.


E se você, assim como eu, espera ver a neve pela primeira vez, então se prepare para uma experiência inesquecível. Minha “primeira vez” na neve foi em Osorno, a caminho do vulcão. Entre chuva e neve, vi a neve cair aos poucos e se acumular, provocando certo frio, mais pelo forte vento do que pela neve em si. Mesmo assim, foi uma experiência mais de passagem.

Vivenciar a neve totalmente só foi acontecer em El Colorado, já que eu só consegui conhecer o Valle Nevado na terceira viagem ao Chile, uma vez que seu acesso é bastante complicado quando o tempo não está muito estável. Apesar dos 5 graus negativos, não posso dizer que estava frio de verdade. O sol constante e a falta de ventos enganam um pouco. Por isso mesmo não esqueça o protetor solar e os óculos escuros, ou pode ter uma surpresa desagradável em seu passeio.


No entanto, toda a vista da montanha, com suas árvores, casas, hotéis, gente esquiando, o chocolate quente, o teleférico, o esqui bunda (para os mais atrevidos), as nuvens, e toda aquela neve branquíssima compensa a subida dos 4200 metros e todas as suas 42 curvas fechadíssimas. Uma conquista e tanto, lhes asseguro.


Enfim, o Chile tem motivos de sobra para se tornar o primeiro destino lembrado por qualquer pessoa que decida viajar para fora do Brasil, mas que não quer gastar muito, nem se manter nos destinos mais tradicionais. Soma-se a isso, ainda, o fato de não ser necessário o passaporte para a viagem. Apenas com o R.G., com emissão menor do que 10 anos, você pode usufruir de todas essas maravilhas que somente o Chile tem a oferecer.


Espero que essa postagem tenha aguçado sua curiosidade, e despertado alguma vontade para conhecer o lindo Chile. Prometo voltar nas próximas postagens a cada um desses assuntos, dando nomes de bons lugares para comer, se hospedar e fazer compras. Além de comentar os bons lugares para visitar, e aqueles a serem evitados. Um grande abraço a todos e até o próximo post.

Texto e fotos by: Ricardo Seripierro

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